Capturado pelo reflexo distorcido na torradeira à sua frente, Brian Milner percebe que está desenhando um autorretrato. Na sala ao lado, a anos-luz de distância de seus pensamentos, seus amigos estão comemorando. A mente de Brian já cruzou o espaço para se perder em outro mundo, onde tudo é mais vivo, mais brilhante, quando uma sombra se aproxima por trás dele. Esse primeiro encontro com Laurie marca o início de uma nova história na qual ela desempenhará o papel principal. Com uma narrativa construída em torno da relação entre o inconsciente e sua representação, a graphic novel Final Cut, do mestre Charles Burns, mostra o autor em seu ápice artístico. Através de sequências incríveis nas quais os sonhos se tornam uma fonte de inspiração para a ficção, Burns e Brian usam o lápis como uma ferramenta introspectiva que cria pontes entre a imaginação e a realidade, entre a estranheza de um surrealismo muito próprio e as agruras da juventude. Quando criança, Brian e Jimmy faziam filmes de ficção científica em Super 8 no quintal de casa, convencendo os amigos a atuarem em suas produções toscas e caseiras inspiradas pelos melhores filmes B dos anos 1970. Agora um artista talentoso e aspirante a cineasta, Brian viaja com seu velho parceiro Jimmy e mais alguns amigos como Tina e Laurie— sua musa relutante — para um uma cabana remota na floresta munidos com uma velha câmera de 8 milímetros. O intuito é realizar seu primeiro longa terror e ficção científica, homenagem ao seu filme favorito, Invasores de Corpos (DarkSide® Books, 2020), clássico baseado na obra do escritor Jack Finney. Porém, à medida que a afeição de Brian por Laurie parece não ser correspondida, ele delira e mergulha na fantasia em que ela é a garota de seus sonhos, a donzela em perigo e sua salvadora ao mesmo tempo. Repleto de referências a filmes clássicos de ficção científica e de terror e com quadros e cenas impressionantes da natureza, do cinema e do surreal, Charles Burns borra a linha entre os sonhos de Brian e a realidade, a imaginação e a percepção para construir outra obra-prima, como nos melhores momentos de sua carreira, com destaque para o clássico Black Hole. Com o mestre da arte em seu melhor momento, Final Cut é um olhar surpreendente sobre as angústias e os desejos juvenis, o amor e as dúvidas que ele traz e o que significa se expressar verdadeiramente por meio da arte. Charles Burns, genial ao abordar temas cada vez mais complexos, nos entrega uma história sublime que, como os melhores filmes, nos deixa com lembranças profundas muito depois de os créditos terem rolado. Charles Burns nasceu em 1955 em Washington, D.C., e cresceu em Seattle durante os anos 1970. Sua obra começou a aparecer e a se destacar na revista Raw, de Art Spiegelman, em meados dos anos 1980, seguida por uma variedade de quadrinhos e projetos, de colaborações para revistas de HQs como Métal Hurlant, Frigidaire, El Víbora e Schwermetall, à capas para os álbuns de Iggy Pop e para publicações como Esquire, New Yorker, New York Times Magazine, Time e The Believer. Black Hole (Darkside® Books, 2017) foi publicado originalmente de forma seriada em doze edições pela Kitchen Sink Press e pela Fantagraphics entre 1993 e 2004, e reunida em volume único pela Pantheon em 2005, para aclamação mundial. Em 2007, Burns contribui para antologia animada de horror Peur(s) du noir (Medo(s) do escuro), ao lado de nomes como Lorenzo Mattotti e Richard McGuire. Deu início a uma nova série em 2010, com X’ed Out, seguida por The Hive (2012) e Sugar Skull (2014), reunidas em Last Look em 2016. Dele, a Darkside® Books também publicou Big Baby (2019) e El Borbah (2020).
Avaliações
Não há avaliações ainda.