AZOLLA

Azolla e seu companheiro, um caçador, vivem nas profundezas da floresta. Esposa amorosa e dedicada, sua vida é pontuada pelos afazeres da casa e pela espera do retorno do marido com a caça. Em uma noite, porém, a espera se torna longa demais e ele não retorna. Teria Azolla sido abandonada, ou seria algo pior? O que ela pode fazer quando a esperança se esvai lentamente e sonhos sinistros invadem suas noites? No dia do desaparecimento repentino e inexplicável de seu marido, Azolla, em estado de choque, cai em sono profundo. A realidade é abalada e todas as certezas de uma vida dura e rotineira, porém confortável e repleta de amor, entram em xeque. Começa então uma estranha jornada interior em busca do parceiro desaparecido. Uma corrida insana através de um universo onírico e surrealista, em que o companheiro se esconde e reaparece sucessivamente. Entre sonhos e momentos de vigília, Azolla se divide literalmente ao meio e se vê multiplicando em dezenas de diversos eus, todas ensandecidas pela busca do seu grande amor. Azolla é a tocante graphic novel silenciosa de Karine Bernadou, que nos conduz em um mundo abertamente fantástico, em que a realidade e os sonhos colidem e se misturam incessantemente, um mundo cujos meandros estão mais abertos à interpretação do que à explicação. O prazer da leitura é fortemente impactado pelo impressionante trabalho de aquarela de Bernadou, humano, fluido e eficaz em sua narrativa pela maneira com que aborda as emoções que atravessam qualquer pessoa em uma situação limite como esta — obsessão, incompreensão, culpa, nostalgia, sentimentos violentos e contraditórios que percorrem nossa heroína. Testemunhamos um novo nascimento, uma verdadeira transformação da carne e da alma. As lacunas de ausências e solidão ganham contornos de liberdade. Desejos florescem sem fim num corpo livre para sentir, retribuir e buscar. Azolla é uma graphic novel que nos liberta junto com a busca da personagem, um conto sensual e fabulesco de iniciação. Luto, ausência, êxtase e catarse a cada página. O silêncio aparente explode em um gozo sublime e transforma essa narrativa gráfica em uma líquida aquarela poética e corpórea.