
Homem-Aranha 2 sempre foi um filme muito afetivo para mim. Lembro de tê-lo assistido pela primeira vez no cinema, no ano de seu lançamento. Eu tinha nove anos e, como minha mãe faz questão de lembrar até hoje, vi o longa legendado com ela. Como ainda era pequeno e não conseguia acompanhar as legendas direito, ela lia baixinho para mim. A trilogia dirigida por Sam Raimi sempre ocupou um lugar muito especial na minha memória. E justamente por eu não ser uma pessoa nostálgica, resisti por muito tempo a revê-la.
Revisitar algo que marcou sua infância é sempre uma experiência estranha e Homem-Aranha 2 não foge à regra. Tudo aquilo que me emocionou aos nove anos ainda ecoa no Pedro de trinta. A forma como o herói se move entre os prédios da cidade, a relação quase tátil que o filme constrói com Nova York, as cenas de ação, a trilha sonora e, claro, a icônica cena do trem, tantas vezes repetida e referenciada, que ainda hoje funciona.
É claro que o roteiro de Alvin Sargent e Sam Raimi tem falhas que passaram despercebidas para o meu eu mais novo, mas que agora se destacam. O filme repete a estrutura do anterior, os vilões continuam obcecados em ameaçar a tia May, e Mary Jane talvez seja a ruiva mais azarada de toda Manhattan.
Mas não é sobre os defeitos do filme que quero falar. O que me interessa agora é algo essencial no roteiro, algo que o Pedro de nove anos jamais poderia perceber, mas que hoje salta aos olhos.

Em certo momento do filme, Peter passa por uma crise — quase uma crise de meia-idade. Seus poderes, antes tão naturais, começam a falhar. Preocupado, ele consulta um médico. Durante a conversa, o doutor propõe uma reflexão que Peter nunca havia feito: Por que você faz o que faz? É uma loucura não saber quem você é. Talvez você não deva ser o Homem-Aranha. Talvez por isso você esteja caindo… Sempre há uma escolha.
Na cena seguinte, Peter está sentado em sua cama, mergulhado em pensamentos. Ele imagina uma conversa com seu tio Ben, que tenta lembrá-lo da importância de assumir as responsabilidades que surgiram com seus poderes. Mas em determinado momento, Peter se dá conta de que não pode mais viver o sonho de seu tio. A conversa termina com Ben estendendo a mão para ele e Peter a recusando.
A partir daí, a vida de Peter melhora, agora livre do fardo que o Homem-Aranha representa. A montagem mostra diversas situações em que ele poderia usar seus poderes, mas escolhe não fazê-lo. O tempo passa e em determinado momento o chamado da responsabilidade se torna impossível de ignorar. Peter aceita esse chamado e volta a ser o herói.
A grande questão aqui não é ter responsabilidade apenas porque é necessário. O verdadeiro desafio é escolher ter a responsabilidade — assumi-la não por obrigação, mas por convicção. Os poderes de Peter não foram fruto de uma escolha; foram um acaso da vida. Mas o que ele faz com isso, sim, é escolha sua.

Acredito que até a conversa imaginária com seu tio, Peter agia porque achava que não havia alternativa. Só quando ele compreende que existe um outro caminho, e opta conscientemente por rejeitá-lo, é que passa a encarar sua responsabilidade de maneira autêntica. Ele volta a ser o Homem-Aranha porque quer ser, e não porque precisa ser.
O filme não nos mostra os capítulos seguintes dessa jornada, eu ainda não revi Homem-Aranha 3 haha, mas fico curioso para imaginar como Peter irá, dali em diante, lidar com seus poderes e suas responsabilidades sem perder a si mesmo no processo. Afinal, as necessidades da cidade não podem ser mais importantes que o caminho do próprio herói.
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